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Na Cozinha com a Languiru surge como oportunidade para fora dos muros do Presídio Feminino de Lajeado

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As mãos que se juntam e os dedos que se entrelaçam em oração dão origem a diferentes pratos, em receitas doces e salgadas
As mãos que se juntam e os dedos que se entrelaçam em oração dão origem a diferentes pratos, em receitas doces e salgadas - Foto: Leandro Augusto Hamester

Por entre as grades, exala o cheirinho de esfirras e pastéis. Na cozinha, há expectativa com o resultado do trabalho em equipe. Ao tilintar do forninho, olhos “recheados” de satisfação com a receita que tomou forma, enchendo as cozinheiras de orgulho. Está pronto mais um prato preparado por detentas do Presídio Estadual Feminino de Lajeado (PEFL) que fazem parte do programa “Na Cozinha com a Languiru”.

O projeto faz parte de uma parceria entre a Secretaria Estadual de Justiça e Sistemas Penal e Socioeducativo (SJSPS), através da Susepe, a Cooperativa Languiru e entidades de segurança. São oficinas de culinária que visam capacitar as apenadas para que elas tenham maior destreza e segurança na cozinha, preparando-as para uma recolocação no mercado de trabalho após o cumprimento de sua pena.

Na atual edição, a turma terá seis aulas na cozinha industrial do PEFL, com teoria e prática sobre receitas, boas práticas no preparo de alimentos e na cozinha. Corte de saladas e carnes, preparo de pães, pizzas, salgados para eventos, doces, toda linha de confeitaria e técnica de preparos integram o cronograma. Os principais ingredientes são produtos Languiru.

Christiana Garcia é uma das chefs contratadas para cursos de culinária. É ela quem ministra a formação na unidade. Assim como numa receita, vive um mix de sentimentos a cada novo prato. 

“Em palavras, não consigo dar a grandiosidade que é esse projeto. Tenho consciência de que nem tudo é fácil, mas vale a pena dar uma oportunidade. Ali, há muitas mulheres só querendo isso. Quando não fazemos nossa parte, o mundo do crime faz”, afirma. 

“Nós avaliamos as possibilidades de inclusão no mercado. Prepará-las para uma nova vida é algo sem explicação, um sentimento mútuo de acolhimento. Aprendo muito com tudo isso”, completa.

Aos 43 anos, a detenta que iremos identificar apenas como “T” está há cerca de três anos no presídio lajeadense. Natural de Sobradinho, ela tem do lado de fora dos muros uma filha e os irmãos. É uma das mais empolgadas na oficina de culinária. 

Seu maior “apetite” é pelo preparo de doces e salgados. Olhando em frente, vislumbra uma mesa cheia, com a família satisfeita. Por isso, T está sempre ligada às oportunidades no PEFL. “Qualquer curso que apareça é válido, pois o aprendizado nunca é demais. Foi isso que me motivou a participar desse curso de culinária”, frisa.

Ela recorda do tempo de criança. Sem a mãe, e com o pai trabalhando fora, sentiu a necessidade de ajudar. “Eu era um toquinho de gente. Subi num banquinho de madeira, lembrei como ele e minha mãe faziam e assei um pão”, conta. “Ele não acreditou que tinha sido eu e pediu que fizesse outro pra ver. Não tinha brinquedo, então, desde essa época, eu já gostava de cozinhar”.

Pensando no futuro, ela espera pelo certificado do curso de culinária. “Prefiro começar como empregada, não com negócio próprio. Quem sabe mais adiante. O curso é uma grande oportunidade, mas sei que também vai depender de mim”, destaca, calculando mais seis a sete meses para cumprir.

Espiando de canto de olho a aula prática que acontece na cozinha enquanto é entrevistada, ela já adianta: “quando sair, a primeira coisa que vou preparar pra minha família é a banoffee (torta de banana)”, na expectativa de que o curso também lhe ensine a deixar um prato bem decorado “pra impressionar”.

Ao fim da conversa, T faz questão de deixar uma mensagem: “não tenham medo de apostar em apenadas. Sabemos muito e também sabemos aprender. A maioria quer uma oportunidade, então mostre que essas pessoas não estão sozinhas. Se é difícil pra quem está lá fora, imagine alguém que sai daqui e precisa recomeçar”.

Para a diretora da unidade prisional, Rita de Cássia Donini Antocheviz, o projeto “Na Cozinha com a Languiru” é uma iniciativa que contribui para a mudança do sistema prisional gaúcho. “Vem somar ao trabalho de ressocialização e de reinserção na sociedade. A comida pode ser um agente de mudança na vida destas mulheres, possibilitando que aprendam receitas simples e até mais requintadas”, avalia.

A escolha das participantes para as oficinas priorizou detentas que já trabalham no setor de alimentação do Presídio. As outras vagas foram preenchidas com apenadas que demonstraram interesse pela culinária e têm um bom comportamento e convívio com as demais.

De acordo com o secretário de Justiça e Sistemas Penal e Socioeducativo, Mauro Hauschild, esta é uma iniciativa que possibilita um novo futuro às apenadas após o cumprimento da pena. “Este aprendizado é transformador tanto para elas quanto para a sociedade como um todo”, salientou.

 

* Com informações da Cooperativa Languiru

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