Apenados da Pecan ensinam panificação e confeitaria para imigrantes e quilombolas em Canoas
Publicação:

Dois apenados do Complexo Penitenciário de Canoas (Pecan) estão ministrando, de dentro da casa prisional, aulas de panificação e confeitaria. Os alunos fazem parte de um grupo de 15 pessoas, formado por imigrantes venezuelanos e quilombolas do município da Região Metropolitana. As atividades acontecem desde o começo do mês, e os participantes já colocaram, literalmente, a mão na massa, fazendo uma variedade de salgados, bolos e doces.
A organização das aulas é feita pela Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), órgão vinculado à Secretaria de Justiça e Sistemas Penal e Socioeducativo (SJSPS), em parceria com a Prefeitura de Canoas e com o Banco de Alimento de Canoas, responsável pela doação dos insumos para a confecção dos produtos. Na quinta-feira (20), ocorreu uma aula inaugural no local com a presença dos alunos, professores, representantes da Susepe e da administração municipal de Canoas.
A capacitação possibilitará a geração de renda no Quilombo Chácaras das Rosas, em Canoas, no qual moram cerca de 20 famílias. O local recebeu doação de equipamentos de uma padaria completa, há cerca de um ano, mas não havia alguém preparado para utilizá-los. Além disso, no primeiro módulo do curso, os participantes tiveram aulas de português, visando aperfeiçoar a comunicação dos estrangeiros aqui no Brasil.
Os dois apenados foram capacitados na área, em 2021, por meio de curso oferecido via Projeto de Capacitação Profissional e Implantação de Oficinas Permanentes (Procap), do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e ministrado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). Agora, no papel de professores, compartilham o conhecimento adquirido com os 15 alunos.
L.R., 40 anos, e E.F.C, de 29, mostram nos rostos, em forma de sorriso, a satisfação e o orgulho, de assumirem o papel de multiplicadores. “Para mim, é um prazer poder participar do curso, ensinando o pessoal. Se o conhecimento ficar só comigo, não serve de nada”, reflete L.R., que já era padeiro antes de ingressar no sistema prisional, tendo aprimorado as técnicas utilizadas na Penitenciária.
A Técnica Superior Penitenciária (TSP) Assistente Social da Pecan, Adalgisa Patricio, ressalta a iniciativa como importante. “Estão multiplicando o conhecimento que receberam, aqui dentro, com a sociedade. É um reconhecimento para eles, como se recebessem uma medalha”, sublinha. A profissional acredita na prosperidade dos dois apenados, após o cárcere. “A possibilidade de eles não retornarem para o sistema prisional é de 99%”, avalia.
Atualmente, dos 2.200 detentos da Pecan, aproximadamente 1.200 exercem alguma atividade laboral. Desses, cerca de 200 são empregados assalariados nas 13 empresas presentes na casa prisional, por meio de PACs. O restante atua em serviços de manutenção e limpeza e recebem remição da pena de um dia a cada três trabalhados. “Eles saem daqui marceneiros, costureiros, estofadores, dentre outros. São profissões com muitas oportunidades de trabalho depois que ganharem a liberdade”, frisa o diretor do estabelecimento prisional, Loivo Machado.
Também participaram da aula inaugural do curso o delegado da 1ª Delegacia Regional Penitenciária (DPR), Benhur Calderon, e os representantes do Departamento de Tratamento Penal (DTP), Rosane Garcêz e Marcelo Felipe. Além do secretário de Governança e Enfrentamento à Pandemia de Canoas, Paulo Bogado, e da secretária adjunta de Igualdade Racial e Imigrantes, Ednéa Paim.
Texto: Rodrigo Borba/Ascom Susepe